Humanização do Atendimento em Saúde
Palestra
exposta no VII Simpósio de Relacionamento Terapeuta-Paciente do
Hospital Américo Bairral
Itapira - SP - 2004
Itapira - SP - 2004
Antes do século XVIII, ou seja, antes do
positivismo, o hospital era essencialmente uma instituição de
assistência dirigida aos pobres, já que os ricos levavam os
recursos médicos para suas casas. Apesar de ser uma instituição
de assistência, o hospital servia também como recurso de exclusão
social pois, o pobre, como pobre, tinha necessidade de assistência
e, se fosse também doente, poderia ter alguma doença contagiosa,
logo, poderia ser perigoso. Além disso, o pobre poderia estar
louco, ou seja, oferecer mais perigo ainda. Por conta disso o
hospital existia tanto para acolher esses pobres, quanto para
proteger a sociedade do perigo que ele representa.
De certa forma, não se pretendia a cura para o
usuário do hospital até o século XVIII, mas sim uma assistência
material e espiritual, em alguns casos pretendia-se dar os últimos
cuidados ou o último sacramento.
Depois do século XVIII, com a explosão do
conhecimento e da técnica, com o aprimoramento crescente dos meios
de diagnóstico e tratamento, houve uma inversão no papel dos
hospitais, quase ou tão incômoda quanto a situação anterior, ou
seja, ao se abordar técnica e cientificamente a doença, confortar
e consolar o doente passaram a ser coisas do passado. Evidentemente
que todos sempre quiseram evitar a doença e a morte, em qualquer
época histórica, mas entre o sofrimento e a morte pode ser que
essa seja menos temida que aquele. Pelo que se sabe da realidade dos
pacientes, tem sido muito freqüente ouvir nos corredores dos
hospitais em alto e bom som, que não se teme tanto a morte, em si
mesma, quanto a dor e os sofrimentos relacionados ao processo de
morrer.
Evidentemente também, as pessoas sempre procuraram
o hospital para cura de seus males e alívio de seu sofrimento, não
necessariamente nessa ordem. De qualquer forma, trata-se de uma busca
de alívio, de preservação da vida, de restituição da saúde e
melhoria do conforto pessoal. Mas essa problemática da dor e do
sofrimento não é uma simples questão técnica, pois a
intencionalidade solidária, fraterna e confortadora depende mais de
uma atitude do caráter do que do conhecimento. Muito embora a
ciência contribua, sobremaneira, para soluções eficientes aos
problemas de saúde, o sofrimento humano diz muito mais respeito à
ética que à técnica.
Trazendo essa questão aos exemplos atuais, citamos
algumas situações muito constrangedoras no cotidiano dos hospitais.
Se no século XVIII as pessoas ofereciam atenção e cuidados humanos
aos pacientes porque a ciência não podia oferecer mais nada, hoje a
ciência tem muito a oferecer mas as pessoas não oferecem mais nada
além da técnica.
Temos atendido na psiquiatria seqüelas emocionais
bastante mórbidas de tratamentos realizados em UTIs. A maioria dos
profissionais desses ambientes privilegia a técnica em franco
desprezo para com a questão humana. O conforto emocional dos
pacientes é sistematicamente ignorado em favor dos dados objetivos do
equilíbrio hidroeletrolítico, do traçado eletrocardiográfico, da
eletroforese das proteínas, da pressão venosa central, da gasometria
e outros parâmetros importantes, mas dispensáveis se a pessoa deixa
de ter vontade de viver.
O tecnólogo da saúde, embevecido pelos
conhecimentos que acredita possuir não se obriga mais a dar satisfações
ao paciente e aos familiares do estado de saúde, prognóstico e
evolução. Parece que o conhecimento tornou essas pessoas herméticas
ao cidadão comum.
O Hospital Depois do Século XVIII
A visão marcantemente biológica (positivista) fez
com que profissionais de saúde considerassem como sofrimento exclusivamente
o padecimento físico, deixando de considerar o sofrimento global da
pessoa. Esse cientificismo costuma adotar a curiosa posição de
"não permitir" o sofrimento subjetivo ao paciente, já que
os conhecimentos objetivos sobre determinada doença definem
tecnicamente o tanto de sofrimento que o paciente "deve e pode
se permitir". De acordo com os manuais de medicina, não aparecendo
na tomografia ou no ultra-som nada de anormal, a dor ou mal estar
"estão proibidos".
Por outro lado, o doente passou a representar algo além
de uma pessoa digna de atenção, de cuidado e assistência. O doente
passou a ser um instrumento de aprendizagem, de estatística, de
pesquisa, passou a representar uma fonte de recursos econômicos para
a instituição (veja a questão das poucas altas nos finais de semana,
quando os hospitais não podem ficar com leitos vagos), um argumento
político de algum ministério, uma possibilidade financeira da
administração hospitalar e assim por diante.
Sem dúvida nenhuma os avanços do conhecimento e da
técnica têm forte repercussão na área da saúde, tanto no diagnóstico
como no tratamento, tanto na prevenção como na cura das doenças, tudo
isso refletindo diretamente no conforto pessoal, na qualidade de vida
e na longevidade das pessoas. Entretanto, o avanço tecnológico
trouxe consigo também um aspecto frio e mecânico, maquinal,
reducionista e algo desumano na relação entre as pessoas. A
crítica ao positivismo é que ele ensinou a todos o preço das
coisas mas não ensinou a ninguém o valor das coisas. Talvez tenha sido
um mal necessário.
A ética atual discute, sem conclusão alguma, se do
positivismo para cá o ser humano pode usufruir de maior felicidade.
Obviamente devem ter melhorado as condições de vida pois, inegavelmente,
há uma brutal diferença entre extrair um dente hoje e no século
passado, assim como também é diferente a expectativa média de vida
entre meados do século XX e hoje, mas a questão da felicidade em si
é bastante diferente.
Atualmente as conseqüências do desenvolvimento da
tecnologia no relacionamento entre as pessoas estão sendo detectadas,
estudadas e enfrentadas, buscando-se um equilíbrio capaz de dosar o
uso dos equipamentos sofisticados e de última geração e o relacionamento
humano entre as pessoas, buscando um equilíbrio entre o mecanicismo
frio da técnica, entre os cálculos complicados da economia e entre
o utilitarismo das coisas, com a compreensão das necessidades
afetivas das pessoas, enfim procurando equilibrar a idéia dos preços
com a noção de valores.
Um lado positivo do reducionismo moderno talvez tenha
sido a aquisição de conhecimentos especializados. Na área da saúde
a especificidade do conhecimento originou as especialidades médicas,
com conhecimentos mais aprofundados sobre partes menores do ser
humano (daí o termo reducionismo). A vantagem foi o conhecimento maior
e mais específico, a desvantagem foi a eventual perda da noção de
conjunto e integração.
Nas outras áreas, a vantagem do reducionismo foi a
discussão dos papéis profissionais, resultando nas definições, especificações
e atribuições de cada profissional; do médico, do enfermeiro,
assistente social, psicólogo, nutricionista, terapeuta ocupacional e
todos os demais trabalhadores da saúde contribuindo para a melhoria
das condições e qualidade no atendimento.
Por conceito, origem e vocação a medicina e outras
áreas relacionadas ao atendimento à saúde devem representar uma parte
da ciência essencialmente humanística. Isso quer dizer que será
desejável partir-se de uma visão global do ser humano, deixando de
lado a concepção dualista que entende a pessoa como sendo apenas
dotada de corpo e espírito mas, sobretudo, compreender a pessoa como
uma unidade indissolúvel.
Neste contexto, as enfermidades, transtornos,
distúrbios, doenças, enfim, de quaisquer processos mórbidos
deverem ser abordados não apenas através do órgão da pessoa, mas
também e principalmente, através daquilo que ela tem de mais
humano: seu componente afetivo e emocional. Também o tratamento e
atenção a quaisquer desses estados mórbidos devem considerar
outros elementos humanos além da fisiopatologia. Além de científica,
além de naturalista, a assistência à saúde deve ser
fundamentalmente humanista.
É fundamental, sobretudo, que o profissional de saúde
deixe de considerar apenas a doença e se aplique em cuidar do
doente, da pessoa que, circunstancialmente, está sofrendo. Além da
dimensão física, a pessoa deve ser atendida também em seu componente
social, psíquico e emocional.
A Desumanização do Atendimento (ou do Relacionamento)
As raízes da ciência atual tiveram sustentação
substancial no positivismo (séc. XVIII), que possibilitou o avanço
galopante do conhecimento e hoje não se questiona o fato da tecnologia
médica ter tido avanços inimagináveis, criando as principais
condições que mudaram o estilo de vida das pessoas.
Na saúde, com o avanço das descobertas
científicas, o hospital passa de uma instituição aonde se vai para
morrer, para uma instituição onde se pretende a cura. Mas,
socialmente, a instituição hospitalar representa uma espécie de
microcosmo que reflete a sociedade geral. Ali, no hospital, encontramos
em doses variadas o que a sociedade tem de mais nobre, bonito e
incrível, bem como o que há de mais triste, degradante e violento.
Nesse microcosmo social que é o hospital encontramos o santo e o
bandido, e nem sempre o bandido morre no final. Encontramos o
cristão voluntarioso, caridoso, atencioso e o ateu, técnico científico
e eficiente do qual não se pode prescindir. Vemos a criança, que tende
a exaltar sentimentos e monopolizar atenções e o velhinho que luta
para viver, com seus 90 anos, embora a sociedade (e o próprio
hospital como reflexo) não lhe sorria mais tanto.
No hospital a humanização é ameaçada pela própria
incongruência do destino, das pessoas e das circunstâncias. Ali existem
tanto as jovens mulheres querendo ser mães e não podem por problemas
de esterilidade, como as outras que, sendo férteis, desperdiçam vidas
e promovem abortos. No hospital há pessoas lutando com todas as forças
para viver e há também os médicos ocupados em salvar aqueles que acabam
de fazer de tudo para tirar a própria vida. Existem, como em toda
sociedade, os histéricos que ludibriam e passam na frente de crianças
com queimaduras, existem médicos, como tantos outros profissionais,
que ocultam a competência quando o dinheiro é pouco, existem os técnicos
de laboratório que fazem greve, os diretores que aferem lucro e os
contadores que fraudam a previdência....
Mas tem também as irmãs de caridade que consolam,
bombeiros que fazem parto na ambulância... Enfim, o hospital representa
a sociedade e não costuma ser nem mais nem menos desumanizada que esta.
Assim sendo, ao se falar da desumanização das
instituições de saúde, devemos lembrar que essas instituições,
como quaisquer outras, refletem a problemática daquilo que acontece
em nossa sociedade. Se pretendermos alguma coisa mais séria e
profunda em relação ao tratamento que se dispensa às pessoas na
área da saúde, devemos buscar antes, na sociedade, as raízes da
desumanização dos contactos interpessoais. A humanização da
instituição da saúde deve passar, obrigatoriamente, pela humanização
maior e condicionante de toda a sociedade.
Afinal, o que é ser um profissional humanizado?
Em razão do desenvolvimento tecnológico na
medicina, em particular, alguns aspectos mais sublimes do paciente,
tais como suas emoções, suas crenças e valores, ficaram em segundo
ou terceiro planos. Apenas sua doença, objeto do saber cientificamente
reconhecido, passou a monopolizar a atenção do ato médico,
portanto, com esse enfoque eminentemente técnico a medicina se
desumanizou.
Humanizar o atendimento não é apenas chamar a
paciente pelo nome, nem ter um sorriso nos lábios constantemente mas,
além disso, também compreender seus medos, angústias, incertezas
dando-lhe apoio e atenção permanente.
Humanizar também é, além do atendimento fraterno
e humano, procurar aperfeiçoar os conhecimentos continuadamente é
valorizar, no sentido antropológico e emocional, todos elementos
implicados no evento assistencial. Na realidade, a Humanização do
atendimento, seja em saúde ou não, deve valorizar o respeito
afetivo ao outro, deve prestigiar a melhoria na vida de relação
entre pessoas em geral.
Entre os tópicos importantes na humanização do
atendimento em saúde escolhemos alguns, poucos mas relevantes, para
registrar aqui; o interesse e competência na profissão, o diálogo
entre o profissional e o usuário e/ou seus familiares, o
favorecimento de facilidades para que a vida da pessoa e/ou de seus
familiares seja melhor, evitar aborrecimentos e constrangimentos e,
por fim o respeito aos horários de atendimento.
É claro que o tema aqui abordado é Humanização
do Atendimento em Saúde, entretanto, tomando-se por base esses cinco
quesitos, quem não gostaria de vê-los humanizados em todas as
dimensões da vida em sociedade e não apenas no atendimento em
saúde. Não encontramos razões plausíveis para que o apelo de
humanização seja exclusivo para área de saúde, já que essa área
é tão carente em humanização quanto as demais.
De modo geral algumas atitudes são diretamente
relacionadas ao que se pretende com a Humanização do atendimento:
1 . - Aprimorar o conhecimento científico continuadamente
é uma conseqüência do interesse e competência. Entretanto, o
conhecimento continuamente adquirido deve o mais global possível,
objetivando sempre atender as necessidades gerais dos pacientes, ao invés
de se limitar exclusivamente à questão física ou específica da especialidade.
Na oncologia, por exemplo, entre outras especialidades,
a abordagem da dor e do conforto do paciente deve acontecer
paralelamente à utilização dos mais recentes avanços
terapêuticos. Deve-se atender também outros aspectos da qualidade de
vida, como por exemplo, os efeitos colaterais do tratamento
oncológico, a qualidade do sono do paciente, seu estado afetivo, sua
sexualidade, apetite, estética, etc. Não se pretende, com isso, que
o oncologista tenha todos esses conhecimentos, mas que seja sensível
a ponto de facilitar para que o paciente conte com todos esses recursos.
2 . - Aliviar sempre que possível, controlar
a dor e atender as queixas físicas e emocionais. A atenção
emocional diz respeito à compreensão sensível das queixas do
paciente, mesmo que estas não tenham base fisiopatológica ou
anatômica. O que está em questão não são os limites dos livros de
fisiopatologia, mas sim, a representação da realidade pelo
paciente, suas vivências e seu estado existencial atual.
O alívio global do paciente nem sempre se proporciona exclusivamente com analgésicos ou outras intervenções técnicas. Para o conforto global é imprescindível o bem estar afetivo, o qual pode envolver a companhia constante de familiares, a atuação de terapeutas, uso de medicamentos antidepressivos e ansiolíticos e outros recursos psicoterápicos e ocupacionais necessários.
O alívio global do paciente nem sempre se proporciona exclusivamente com analgésicos ou outras intervenções técnicas. Para o conforto global é imprescindível o bem estar afetivo, o qual pode envolver a companhia constante de familiares, a atuação de terapeutas, uso de medicamentos antidepressivos e ansiolíticos e outros recursos psicoterápicos e ocupacionais necessários.
3. - Oferecer informações sobre a doença,
prognóstico e tratamento. Os profissionais da saúde não devem
economizar palavras ou qualquer outra forma de comunicação. O
silêncio do profissional é uma das mais importantes queixas dos
pacientes e familiares em relação ao mau atendimento.Diante de um
profissional calado e silencioso o paciente pode fantasiar para pior
o seu estado de saúde, agravando assim seu estado emocional e,
conseqüentemente, orgânico. As dúvidas e a carência de
informações são as principais causas de não aderência ao
tratamento e de procedimentos incorretos por parte dos pacientes,
familiares e/ou cuidadores. A falta de diálogo com o profissional da
saúde pode ser iatrogênico.
Não raras vezes ouvimos de pacientes que o simples
contacto com o médico (ou outro profissional da saúde) foi
suficiente para que começasse a melhorar. Essa melhora deve-se ao
diálogo, à empatia e à comunicação lenitiva do profissional da
saúde.
4. - Respeitar o modo e a qualidade de vida do
paciente. O tratamento médico deve, prioritariamente, ser uma
atitude que visa melhorar a qualidade de vida do paciente, portanto,
qualquer limitação ao seu estilo de vida imposta pelo tratamento
deve ser evitada (desde que o estilo de vida em questão não seja o
objeto do tratamento, como por exemplo, alcoolismo).
Alguns profissionais costumam ser insensíveis à
esses valores, priorizando seus tratamentos em detrimento da
qualidade de vida do paciente. Eles exigem que o paciente seja
adequado ao tratamento e não ao contrário, o que seria desejável.
O paciente não tem problemas que contra-indiquem o uso social de uma
taça de vinho. Então, o médico deve procurar preferir os
medicamentos que não comprometam esse agradável e sadio hábito.
Nunca me esqueço do hospital onde trabalhava, cujas
enfermeiras acordavam os pacientes em sono profundo, às 23 horas,
para tomarem o medicamento (sonífero) para dormir. Outro
autoritarismo médico que costuma ignorar totalmente a qualidade de
vida dos pacientes é o hábito de marcar exames que exigem jejum
para os horários da tarde, submetendo o paciente a sofríveis horas
de fome.
Essas atitudes podem sugerir, às vezes, que a
comodidade do médico acaba resultando em grave desconforto ao
paciente. Também é o caso, por exemplo, das noções de horário e
de desconforto que parecem não existir em alguns colegas médicos.
Pacientes são submetidos a esperas intermináveis pelo atendimento,
em franco desrespeito aos seus direitos.
5. - Respeitar a privacidade (e dignidade) do
paciente. Tem sido tênue os limites entre tudo o que o paciente
deve se submeter para melhorar e facilitar o trabalho do médico ou
profissional de saúde e aquilo que o profissional quer que o
paciente faça apenas para seu conforto e comodidade.
Existem em determinados hospitais algumas roupas
padronizadas para pacientes que aniquilam totalmente sua dignidade,
deixando à mostra sua intimidade para pessoas que nem estão
envolvidas na questão do diagnóstico e tratamento. Existem
privações, proibições e restrições hospitalares que não
resistem ao mínimo questionamento de um simples "porque não posso?".
Nunca esqueço de uma conhecida minha que, estando
prestes a ser operada de varizes no tornozelo, foi submetida à
tricotomia pubiana (raspagem dos pelos) porque havia uma
"norma" dizendo: - para cirurgias de varizes, deve ser
feita a tricotomia. Seria de se perguntar se para varizes do esôfago
também deveriam ser raspados pelos pubianos. Ora, essa atitude
corresponde a mandar raspar a cabeça de todos que forem submetidos
à extração dentária.
Algumas atendentes de laboratório mandam o paciente
voltar no dia seguinte porque não obedeceram ao jejum e, portanto,
não podem retirar o sangue para o exame. E adotam esse procedimento
para qualquer exame, mesmo que a alimentação não interfira neste
determinado exame.
Muitas vezes percebemos que um pouco de disposição
e boa vontade evitaria que o paciente perdesse a viagem, evitaria que
ele voltasse mais uma vez para atendimento.
6. - Compreender a importância de se oferecer ao
paciente um suporte emocional adequado. É alta a porcentagem
de pessoas que pioram o quadro e as queixas depois de conversarem com
profissionais da saúde, quando a conversa é destituída da
sensibilidade necessária ao bem estar emocional e afetivo do
paciente. Essa frigidez emocional, comum em ambientes que deveriam
confortar, pode resultar em agravamento dos sintomas, desenvolvimento
de depressão e ansiedade que comprometem enormemente a recuperação.
Ficar lembrando que tal procedimento costuma ser
muito doloroso, que tudo depende da biópsia, que isso não costuma ter
cura, que as seqüelas são terríveis, e coisas do gênero não
contribuem em nada, muito pelo contrário. Não é necessário mentir
para que o paciente se sinta bem, mas escolher as palavras para
transmitir a verdade é uma questão de vocação, sensibilidade e
bom senso. O segredo para um bom diálogo, é imaginar como você
gostaria que um profissional em seu lugar dissesse para a senhora sua
mãe.
Para o suporte emocional é importante favorecer algumas
preferências do paciente que não comprometem em nada o andamento do
tratamento, como por exemplo, em relação aos acompanhantes, às visitas
e outros hábitos costumeiros. Isso tudo, ou seja, a introdução de
recursos mais próximos do cotidiano das pessoas, tais como músicas,
vídeos, filmes, apresentações, atividades artísticas, lazer, etc,
suaviza a característica fria da atenção à saúde e melhora o estado
emocional. São mundialmente reconhecidos os benefícios dos "hospitalhaços"
e afins na convalescença dos pacientes internados.
7. - A instituição deve oferecer
condições de trabalho adequadas ao profissional de saúde. O grau
de ansiedade, frustração e descontentamento do profissional (em
qualquer área) tende a repercutir em seu trabalho. Há
instituições de atendimento à saúde já consideradas humanizadas,
porém, algumas vezes essa humanização diz respeito exclusivamente
à melhorias da estrutura física dos prédios. Evidentemente que a
estrutura física dos imóveis é bastante relevante, mas a
humanização da instituição vai além disso.
Quando a instituição não oferece condições
satisfatórias para seus profissionais, há um risco bastante
aumentado do atendimento não se processar satisfatoriamente. Também
todo o sistema está envolvido. O sistema deve atender a
instituição em suas necessidades básicas administrativas, físicas
e humanas.
Perspectivas Institucionais de Humanização do
Atendimento em Saúde
Em 1995 houve uma publicação da revista Veja, matéria de capa, intitulada: UTI, o corredor da vida e da morte. A matéria chocou os profissionais da saúde, pois trazia depoimentos de pessoas que preferiam morrer a terem que se submeter a alguma terapia intensiva, como foi o caso do intelectual Darci Ribeiro.
Em 1995 houve uma publicação da revista Veja, matéria de capa, intitulada: UTI, o corredor da vida e da morte. A matéria chocou os profissionais da saúde, pois trazia depoimentos de pessoas que preferiam morrer a terem que se submeter a alguma terapia intensiva, como foi o caso do intelectual Darci Ribeiro.
Alguns projetos de humanização vêm sendo
desenvolvidos há alguns anos, em áreas específicas da
assistência, por exemplo, na saúde da mulher, da criança, entre
outros. Atualmente têm sido propostas diversas ações visando à
implantação de programas de humanização nas instituições de
saúde, especialmente nos hospitais, tal como o Programa Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) do Ministério da
Saúde em 2000, com o objetivo de promover uma mudança de cultura no
atendimento de saúde no Brasil (veja abaixo).
São vários os projetos e ações que desenvolvem
atividades humanizadoras ligadas a artes plásticas, música, teatro,
lazer, recreação, incluindo iniciativas do Ministério da Saúde no
sentido de valorizar atitudes humanizadas.
Para que o trabalho de um profissional seja
eficiente e ao mesmo tempo humanizado, em qualquer área e não
apenas médica, são necessários conhecimento, qualidade técnica e,
indubitavelmente, uma boa qualidade de inter-relação humana. Em
medicina, a qualidade exige o desenvolvimento de conhecimentos e de
capacidade técnica mas, para a qualidade de inter-relação humana o
médico precisa reconhecer e lidar com os aspectos emocionais do
paciente, isto é, precisa desenvolver atitudes eficientes e humanas
em sua tarefa assistencial.
As atuais condições do exercício da medicina não
têm contribuído para a melhoria do relacionamento entre médicos e
pacientes, nem para o atendimento humanizado e de boa qualidade. E
esse quadro atual se estende também a outros profissionais da área
de saúde.
As dificuldades de humanização começam pelo lado
do paciente. É fundamental considerar, para a humanização do
atendimento, se o paciente está inserido em um contexto pessoal,
familiar e social satisfatório. Esse contexto é indispensável até
para a adesão ato tratamento, para a procura do serviço de saúde,
para acompanhamento do tratamento.
Em segundo, a assistência à saúde deve priorizar
as necessidades pessoais e sociais do paciente. Há um bom número de
médicos que diagnosticam muito bem e prescrevem tratamentos
primorosos, entretanto, não têm a mínima noção (e pior, a
mínima preocupação) em saber se o paciente pode adquirir os
medicamentos. Como costumam dizer, esse problema não é deles.
Ainda tem a questão primordial da instituição. Na
instituição interatuam as necessidades de quem assiste e de quem é
assistido e a satisfação de quem é atendido, infelizmente,
depende, antes, da satisfação de quem atende.
Programa Nacional de Humanização da Assistência
Hospitalar
Foi criado em 1997 pelo Ministério da Saúde um
Programa Nacional de Educação Continuada em Dor e Cuidados
Paliativos para os Profissionais da Saúde. Isso visava uma abordagem
não apenas técnica, mas sobretudo humana para a questão do
sofrimento. Essa preocupação era mais voltada aos pacientes
oncológicos, pois, as dores oncológicas representam 5% das dores
crônicas. Os estudos têm apontado que a dor oncológica não tem
sido adequadamente controlada, não por falta de recursos
terapêuticos, mas por avaliação imprecisa do quadro de dor e
utilização inadequada do arsenal terapêutico disponível e subvalorização
das necessidades do paciente.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 4,5 milhões de pacientes em países em desenvolvimento e desenvolvidos morrem anualmente sem receber tratamento da dor e sem que lhes sejam considerados outros sintomas tão prevalecentes quanto a dor e que também causam sofrimento.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 4,5 milhões de pacientes em países em desenvolvimento e desenvolvidos morrem anualmente sem receber tratamento da dor e sem que lhes sejam considerados outros sintomas tão prevalecentes quanto a dor e que também causam sofrimento.
Em 2000, o Ministério da Saúde, sensibilizado pelo
número significativo de queixas dos usuários referentes aos maus
tratos nos hospitais, tomou a iniciativa de convidar profissionais da
área de saúde mental para elaborar uma proposta de trabalho voltada
à humanização dos serviços hospitalares e de saúde. Estes
profissionais constituíram um Comitê Técnico que elaborou um
Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar
(PNHAH), com o objetivo de promover uma mudança de cultura no
atendimento de saúde no Brasil.
O PNHAH propõe um conjunto de ações integradas que
visam mudar substancialmente o padrão de assistência ao usuário nos
hospitais públicos do Brasil, melhorando a qualidade e a eficácia dos
serviços hoje prestados por estas instituições. Seu objetivo
fundamental é aprimorar as relações entre profissionais de saúde
e usuários, dos profissionais entre si, e do hospital com a
comunidade.
A implantação do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar foi resultado do esforço integrado do Ministério da Saúde, Secretarias estaduais e municipais e entidades da sociedade civil. De 2000 ao final de 2002, o Programa deveria ter atingido um conjunto de cerca de quatrocentos e cinqüenta hospitais.
A implantação do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar foi resultado do esforço integrado do Ministério da Saúde, Secretarias estaduais e municipais e entidades da sociedade civil. De 2000 ao final de 2002, o Programa deveria ter atingido um conjunto de cerca de quatrocentos e cinqüenta hospitais.
Através de normas e orientações o PNHAH se
propunha a promover uma requalificação dos hospitais públicos,
valorizando assim a dimensão humana e subjetiva presente em todo ato
de assistência à saúde. Com este intuito, o Ministério da Saúde
concederia o título de "Hospital Humanizado", pelo prazo de
um ano, aos hospitais cujo padrão de assistência e funcionamento global
estejam em conformidade com os indicadores de humanização e os
princípios e diretrizes do PNHAH.
O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Minas Gerais foi um dos primeiros hospitais a fazer parte,
oficialmente e sistematicamente, do Programa Nacional de
Humanização na Assistência do Ministério da Saúde. Ainda em 2000,
foi formada no HC da UFMG uma comissão para sua viabilização e o
Programa foi instituído pela Diretoria.
Por outro lado, a despeito das elogiosas iniciativas
institucionais em relação à humanização do atendimento em saúde,
a maiores esperanças e expectativas não estão na intervenção do
governo mas, sobretudo, nas escolas de formação dos profissionais da
saúde.A formação de profissionais da saúde deve contemplar uma visão antropológica do ser humano, muito além do aspecto fisiopatológico, muito além da formação técno-científica vigente.